Há vinte e poucos anos, quando me iniciava nas leituras sobre este tema que, dez anos mais tarde se viriam a tornar a minha praxis, depois de percorridos muitos cursos profissionalizantes, que ainda hoje acompanho e me alimentam porque não se esgotam nunca, uma das questões sempre presente, nesse tempo, era a incompreensão de alguns saberes que pareciam ser contraditórios.
Por exemplo, em alguns livros havia autores que defendiam que todas as pessoas devem dormir para Norte, pois devido ao eixo Norte-Sul, isso nos restabelece e traz um sono mais equilibrante. Noutros, lia que as crianças, por estarem a crescer, deveriam dormir com a cabeça para Este, cuja direção favorecia o crescimento. Noutros ainda, lia que em presença da data de nascimento de cada individuo e do seu género, feminino ou masculino, se apresentavam novas variantes. E por fim, outros ainda, colocavam a casa e as suas condições e características no centro da decisão.
Tudo isto na altura me gerava alguma confusão e ânsia de esclarecer, treinado que estava o raciocínio na área das ciências, no pensamento objetivo, concreto e sem indefinições.
Felizmente, quando posteriormente iniciei os meus estudos de âmbito mais profundo, já profissionais, comecei a entender que todas estas afirmações eram justificadas, que não se contradiziam, antes se complementavam e, posso hoje afirmar, que têm diferentes graus de importância e variam de comportamento consoante as circunstâncias.
Na antiguidade, talvez há mais de 4.000 mil anos, quando havia já um vasto conhecimento mas poucas ferramentas ou acessórios técnicos como uma bússola, já se colocava a ponderação sobre a zona mais favorável para habitar, tal e qual como fazemos hoje em dia quando nos confrontamos com semelhante necessidade.
Nessa altura, o factor mais importante, estudado, e passado de geração em geração, era aquele a que hoje em dia damos o nome de Forma, ou Método da Forma, onde a morfologia do espaço era estudada com detalhe para que as famílias estivessem abrigadas das intempéries, banhadas pelo sol e de temperatura confortável, com água como alimento e via de comunicação. As suas casas eram simples, pequenas, e albergavam uma família inteira, que para se manterem de boa saúde, teriam de estar bem posicionados. Procuravam então uma parede sólida, que lhes conferisse apoio, proteção, e por consequência, saúde. Durante séculos, o local e a forma do terreno e da casa no interior assumia um papel primordial que perdura até aos dias de hoje, pois tudo o que envolve um espaço dita a energia no seu interior. Vale a pena refletir em quantas povoações inteiras nasceram nesta costa Atlântica ao abrigo das agressões climatéricas de Norte e Noroeste…
Durante Séculos, as civilizações foram evoluindo, bem como os seus conhecimentos sobre matemática, astronomia, geologia, entre muitos outros. Surgiu então a bússola e com ela melhor e mais precisa orientação, o que lhes permitia agora trabalhar com direções mais concretas. Assim, começava a traduzir-se esses conhecimentos por cálculos mais rigorosos, cujos antigos denominaram de Método Clássico. Na prática, o Método Clássico albergava e alberga o Método da Forma. A linha cronológica continuou o seu caminho, os conhecimentos progrediram e a precisão da bússola evoluiu também.
Evoluiu ao ponto de se trabalhar com uma precisão de 0,916º, tratando-se assim de autêntica acupunctura de um cenário envolvente, permitindo ativar e pôr a fluir a energia de um espaço, trazendo harmonia, felicidade, saúde, bem-estar, relacionamentos felizes, famílias mais unidas, abundância, prosperidade, e riqueza, entre outros. Não que se coloquem agulhas, claro, mas tão “simplesmente” como trabalhar com direções e fluxos de energia, isto é, do vento e da água (Feng Shui). O vento todos o sentimos e produzimos com o nosso movimento. A água, para além dos oceanos, mares, rios, entre outros cursos de água, são os nossos caminhos, as nossas estradas, e até as zonas de circulação dentro de um espaço. É neste método Clássico, que se divide em duas grandes Escolas (San He e San Yuan), e por sua vez em linhagens, que encontramos a informação sobre as direções, em que na Escola San He se dá primazia à Forma (aspeto Yin e por isso mais lento), e por consequência às direções pessoais de cada um; enquanto que na Escola San Yuan (Yang e por isso mais rápida, nomeadamente em termos de resultados), as direções dependem do espaço (onde se está) e do tempo, que é cíclico e ao fim e ao cabo, embora o sol nasça e se ponha sempre a Este e a Oeste, o que é certo é que esses pontos exatos variam de dia para dia e de estação para estação. Obviamente que quando um consultor profissional/Mestre, que obrigatoriamente terá de ter todos estes conhecimentos, puder conciliar direções de espaço e tempo, com as direções pessoais, com certeza que o fará.
A linha do tempo continuou, a sociedade também e na década de 80 iniciou-se a troca de conhecimentos e de experiências entre o Oriente e o Ocidente, tal o fascínio e interesse de ambos os lados.
Nessa altura, chegados que foram os conhecimentos de Feng Shui ao Ocidente, de uma forma simplista os tentaram adaptar a uma sociedade moderna, tendo aí nascido o Feng Shui contemporâneo que erradamente se diz que é uma interpretação do Clássico aos dias de hoje. Ao mesmo tempo, começam a surgir novos personagens que se interessam por estes estudos e que em função das suas experiências de vida e de outros conhecimentos nomeadamente taoistas, xamânicos, entre outros, estão na origem do Feng Shui do Chapéu Preto, Intuitivo, ou Simbólico, entre outros nomes e com algumas variantes entre eles, mas cujo foco se debruça no desenvolvimento pessoal e espiritual de um individuo no espaço que o rodeia, usando como principais ferramentas o Baguá e a Intuição.
Foi ao estudar, profundamente, todas estas matérias que entendi que tudo aquilo que lia numa fase inicial não se contradizia mas, pelo contrário, se complementava.
Portanto, é obviamente possível fazer um estudo (uma consulta) de Feng Shui Intuitivo/Simbólico tal como de Clássico, porque uma visa o desenvolvimento pessoal e espiritual de alguém, a outra garante uma boa energia num espaço, com harmonia, paz, saúde, abundância, riqueza, desenvolvimento, sendo também a possibilidade de realizar os seus sonhos. Para além de serem, ambos, uma enriquecedora experiência.
Quanto a tirar um curso de Feng Shui, sim, será sempre uma mais valia, mas não com o propósito redutor de analisar ou perspectivar a sua própria casa e vida, pois é fundamental a existência do factor “distância” para que se veja a floresta e não se observe apenas a árvore. E ainda, por outras palavras, raramente se é bom juiz em causa própria…
in Revista Zen Energy
Votos de boas energias,